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Cérebros mais eficientes compreendem melhor a língua mãe

Pessoas com maior compreensão verbal da língua portuguesa têm cérebros mais eficientes. Isso pode ser uma evidência de que, para essas pessoas, o processamento cognitivo nas vias cerebrais tem mais agilidade e qualidade. Considerando o cérebro como uma rede de tráfego de informações, a maior eficiência é apenas um dos achados de que certas conexões do cérebro estão relacionadas com algum tipo de inteligência. É o que aponta estudo realizado por Gustavo Pamplona, do Programa de Pós-Graduação em Física Aplicada à Medicina e Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP.


O pesquisador enfatiza que esse resultado foi visto em várias regiões cerebrais, principalmente frontais e laterais. Pamplona quis verificar se regiões especificas do cérebro estão conectadas – e com que intensidade, e a partir disso entender sua relação com características de cada indivíduo, como, por exemplo, a inteligência. Além de avaliar a relação entre ligações cerebrais e índices de inteligência, o pesquisador também analisou diferenças entre conexões cerebrais quando um indivíduo está com a atenção voltada para um ponto fixo e quando está com pensamentos aleatórios.

Passo a passo dos testes Para medir a inteligência dos participantes, foi utilizado o teste WAIS-III que, segundo Pamplona, é direcionado para adultos e consiste na realização de atividades que vão desde decorar sequências numéricas até montar quebra-cabeças tridimensionais. “Assim é possível avaliar a compreensão verbal, a percepção, a memória e a resolução de problemas”, diz Pamplona. Participaram da pesquisa 30 pessoas saudáveis, que responderam a testes aplicados pelo neuropsicólogo Gerson Silva Santos Neto, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP. Santos mediu os índices de inteligência dos participantes, avaliando as habilidades verbais, de organização, de memória e de processamento mental de cada um.

Depois disso, todos foram submetidos ao exame de ressonância magnética funcional, método de diagnóstico por imagem capaz de obter informações detalhadas sobre o funcionamento do cérebro naquele exato momento. Os participantes estavam acordados e imóveis, mas livres para pensar sobre qualquer assunto.

Em seguida, as imagens passaram por um tratamento computacional para aumentar a qualidade dos dados obtidos, o que garantiu em cada voluntário a análise de 82 regiões do cérebro. Foram medidos o grau de ligação entre essas 82 regiões e comparados com os resultados dos testes de inteligência.

Resultados De acordo com Pamplona, apesar de o estudo realizado não ser diretamente clínico, contribui no entendimento do cérebro em suas funções cognitivas. “A análise das conexões cerebrais ligadas à inteligência é a primeira realizada com falantes da língua portuguesa, porém, existem alguns resultados semelhantes na Holanda, Estados Unidos e China”. Os próximos passos da pesquisa têm como objetivo a melhoria da sustentação da atenção por um indivíduo. “Isso será feito por meio de treinamento individual dentro da máquina de ressonância magnética, mostrando em uma tela um ‘termômetro’ que reflita o sinal de regiões cerebrais relacionadas à atenção”.

Conexões cerebrais O estudo da conectividade cerebral busca verificar se regiões cerebrais específicas estão conectadas e entender suas relações com doenças e características de cada indivíduo. Esse estudo divide-se em conectividade funcional (a técnica usada pelo pesquisador), que analisa se as regiões cerebrais estão trabalhando em sincronia ao longo do tempo, e estrutural, que procura por ligações anatômicas diretas entre as regiões cerebrais através de fibras axonais – que fazem parte dos neurônios. Ambas as técnicas são concordantes e podem ser estudadas através de imagens por ressonância magnética.

A pesquisa rendeu publicação na revista Frontiers in Human Neuroscience, em janeiro do ano passado, com o título “Analyzing the association between functional connectivity of the brain and intellectual performance”. A orientação foi do professor Carlos Ernesto Garrido Salmon, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP.

Imagem: Arte sobre foto/Wikimedia commons

Mais informações: email gsppamplona@gmail.com, com Gustavo Pamplona

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